Carl Gustav Jung e a Psicologia Analítica
Carl Gustav Jung nasceu na Suíça, no cantão da Turgóvia, em 1875. Seu pai era um modesto pastor protestante e sua mãe foi uma figura dúbia, de saúde fragilizada, segundo o próprio Jung. Grande parte de sua infância foi solitária: Jung sempre brincava sozinho e por algum tempo viveu com uma tia idosa, no breve período de separação de seus pais.
Aos 6 anos começou a aprender latim com seu pai. Durante toda a infância leu diversos textos sobre religião comparada e na adolescência encontrou-se no estudo da filosofia, base fundamental de sua teoria. Aos 17 já conhecia as obras de Schopenhauer, Nietzsche, Kant, Hegel, os clássicos Gregos e muitos outros.
Seu interesse e dilema pessoal com a religião começou também durante seu crescimento. Um dos primeiros sonhos que Jung se lembra foi relatado por ele em sua autobiografia, Mémórias, Sonhos e Reflexões (JUNG, 1963):
“Mais ou menos na mesma época(…)tive o primeiro sonho de que me lembro e que, por assim dizer, me ocupou durante toda a vida. Eu tinha então três ou quatro anos.
O presbitério fica isolado, perto do castelo de Laufen, e atrás da quinta do sacristão estende-se uma ampla campina. No sonho, eu estava nessa campina. Subitamente descobri uma cova sombria, retangular, revestida de alvenaria. Nunca a vira antes. Curioso, me aproximei e olhei seu interior. Vi uma escada que conduzia ao fundo. Hesitante e amedrontado, desci. Embaixo deparei com uma porta em arco, fechada por uma cortina verde. Esta era grande e pesada, de um tecido adamascado ou de brocado, cuja riqueza me impressionou. Curioso de saber o que se escondia atrás, afastei-a e deparei com um espaço retangular de cerca de dez metros de comprimento, sob uma tênue luz crepuscular. A abóboda do teto era de pedra e o chão de azulejos. No meio, da entrada até um estrado baixo, estendia-se um tapete vermelho. A poltrona era esplêndida, um verdadeiro trono real, como nos contos de fada. Sobre ele uma forma gigantesca quase alcançava o teto. Pareceu-me primeiro um grande tronco de árvore: seu diâmetro era mais ou menos de cinquenta ou sessenta centímetros e sua altura aproximadamente de uns quatro ou cinco metros. O objeto era estranhamente construído: feito de pele e carne viva, sua parte superior terminava numa espécie de cabeça cônica e arredondada, sem rosto nem cabelos. No topo, um olho único, imóvel, fitava o alto.
O aposento era relativamente claro, se bem que não houvesse qualquer janela ou luz. Mas sobre a cabeça brilhava uma certa claridade. O objeto não se movia, mas eu tinha a impressão de que a qualquer momento poderia descer do seu trono e rastejar em minha direção, qual um verme. Fiquei paralisado de Angústia. Nesse momento insuportável ouvi repentinamente a voz de minha mãe, como que vinda do interior e do alto, gritando — “Sim, olhe-o bem, isto é o devorador de homens!”. Senti um medo infernal e despertei, transpirando de angústia.
O sonho com essa figura religiosa arcaica, o deus Fálico, foi motivo de análise durante toda a sua vida, como ele mesmo descreveu na citação. Jung se confrontava também com as ideias cristãs o tempo todo; percebia as figuras sagradas ora como bondosas, ora como assustadoras. O relacionamento com seu pai e a igreja protestante também eram motivo de angústia para Jung, que via seu familiar como um homem de pouca fé.
Seus interesses acadêmicos variavam entre as ciências biológicas, a história e a filosofia. O desejo de Jung era cursar Arqueologia, no entanto a situação financeira de sua família não permitia que ele fizesse algum curso fora da cidade em que moravam, na Basiléia.