QUANDO REALIZAR UM BORI
O Bori é um ato feito apenas dentro do Candomblé. Há pessoas que cuidam da cabeça de forma diferente, mas o mesmo não tem e não deve ser confundido com Bori. A determinação de se fazer um Bori a uma pessoa é feita através do jogo de buzios. O zelador em questão, devido às quedas do jogo, verifica o pedido de Orí na necessidade de ser agradado.
O ato de Bori pode ser feito a qualquer pessoa, iniciada ou não dentro do Axé. O Bori serve como uma forma de ajuda a pessoa numa determinada fase de sua vida. É bem verdade que, seria interessante que fosse feito esse ato uma vez ao ano. Dessa forma daríamos força a nossa cabeça, ou até mesmo, a mantermos forte para que possamos continuar bem.
As pessoas que por acaso forem avisadas sobre a necessidade de ser dar de comer a cabeça (Orí), e por algum motivo não quiserem fazê-lo, de nada devem sofrer, nem mesmo de ameaças como fazem algumas pessoas e não zeladores. Deve-se ser sempre respeitada a vontade da pessoa.
Orí escolhe o zelador de sua confiança. Escolhe o mesmo pelo seu conhecimento, cuidado, zelo e prestígio por fazer as coisas de forma certa junto aos Orixás.
Gostaria de esclarecer que, indjé (sangue) tem várias cores, e que Orí pode receber de bom grado qualquer um deles.
As Cores do Sangue
O Sangue Branco, Vermelho e Preto
Há Axé contido numa grande variedade de elementos representativos do reino animal, vegetal e mineral, quer sejam da água (doce ou salgada), quer venha da terra, da floresta, do “mato”, ou do espaço urbano. O axé é contido nas substâncias essenciais de cada um dos seres, animados ou não, simples ou complexos, que compõem o mundo. Os elementos portadores de axé podem ser compreendidos em três categorias:
Sangue Vermelho Compreende
O do reino animal : corrimento menstrual, sangue animal;
O do reino vegetal : o epô (azeite de dendê), o Osùn (pó vermelho extraído do Perocarpus Erinacesses -Abraham, 1958: 490), o mel (sangue das flores);
O do reino mineral : cobre, bronze etc. Veremos mais adiante que o amarelo é uma variedade do vermelho, assim como o azul e o verde são variedades do preto.
Sangue Branco Compreende
O do reino animal : o sêmen, a saliva, o hálito, as secreções, o plasmo (particularmente o do ígbín (caracol)) etc.
O do reino vegetal : a seiva, o sumo, o álcool e as bebidas brancas extraídas das palmeiras e de alguns vegetais, o Ìyèrosùn (pó esbranquiçado extraído do ìròsùn (Eucleptes Fr
anciscana F) (Abrahan 316)), o Orí (manteiga vegetal (shea-butter)) etc:
anciscana F) (Abrahan 316)), o Orí (manteiga vegetal (shea-butter)) etc:
O do reino mineral : sais, giz, prata, chumbo etc.
Sangue Preto Compreende
O do reino animal : cinzas de animais.
O do reino vegetal : o sumo escuro de certos vegetais; o ìlú (índigo, extraído de diferentes tipos de árvores (Abraham 187)), e uma preparação á base de ìlú, pó azul escuro chamado wáji.
O reino mineral : carvão, ferro etc.
Por extensão, existem lugares, objetos ou partes do corpo impregnado de axé: o coração, o fígado, os pulmões, os órgãos genitais, as raízes, as folhas, o leito dos rios, pedras, e outros que correspondem, de uma maneira bem definida, a alguma das três cores mencionadas: os dentes, os ossos, o marfim etc.
Sendo o Axé uma força que permite tudo ser como é, e terem elas a existência, podemos concluir que tudo o que existe, para poder realizar-se, deve receber Axé.
Há três categorias de elementos do branco, vermelho e do preto que, em combinação particulares, conferem significado funcional ás unidades que compõem o sistema.
Receber Axé significa incorporar os elementos simbólicos que representam os princípios vitais e essenciais de tudo o que existe, uma particular combinação que individualiza e permite uma significação determinada. Trata-se de incorporar tudo o que constitui o Aiyé (terra) e o Orun (céu).
Cada ano litúrgico começa no terreiro pelo ciclo das águas de Ósàlá. A lama, a terra como elemento, é a matéria fecunda e está associada a vários Òrìsà. Princípios progenitores femininos, particularmente Odúduwá.
Enquanto Òsàlà está associado á água e ao ar, Odúduwá está associada á água e a terra. Lembremos que a água e o ar pertencem aos elementos – signos do sangue branco do Axé e que a terra é por excelência, condutora do sangue vermelho e do sangue preto do Axé.
Todos os metais amarelos pertencem a Òsún – o ouro e principalmente o bronze – metais com que são manufaturados seus braceletes e o abebê.
O axé vermelho genérico é representado pelo sangue humano e animal, pelo epô, o òsú, sangue vegetal, e pelos metais vermelhos amarelos. È igualmente representado, particularmente, pelo mel, sangue das flores, doçura e quinta-essência do bom, o Axé Rere só comparável ao leite materno.
As penas de ekódide pertencem ao vermelho, e representam o poder e o axé de Ósun-Olóri-Eléye (chefe supremo dos possuidores de pássaros). Porém elas não simbolizam o vermelho genérico, mas – como os cauris para o branco – representam fragmentos do vermelho, seres individualizados, o elemento procriado.
Igbá Orí (literalmente, cabaça da cabeça, pois os assentamentos eram feitos em cabaças – igbá, daí o nome ter virado sinônimo de assentamento de Òrìsà) a Cabaça do Orí.
Costuma-se fazer assentamentos com as mais variadas coisas para representar o Orí de uma pessoa. Esta variedade de coisas deve-se a que o Orí seja o que individualiza o ser humano. Como no caso das impressões digitais, ninguém tem Orí igual ao de outra pessoa, cada Orí é único e exclusivo daquela pessoa. Então, faz-se o assentamento numa cabaça ou tigela, o mais comum entre nós, e esse assentamento é cultuado como Igbá- Orí, ou seja, a representação física do Orí-inú da pessoa.
Ori-Inu Essa parte é também conhecida como O olho espiritual.