Mestre Valentim

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Mestre Valentim 150 150 Marcos Passos

Obras de Mestre Valentim A maior expressão do Barroco no Rio de Janeiro da segunda metade do século XVIII, Valentim da Fonseca e Silva, o mulato Mestre Valentim (c. 1745-1813), pode ser considerado um artista completo por suas produções escultóricas, arquitetônicas e urbanísticas. Trabalhando a serviço do Estado, principalmente para o quarto vice-rei, dom Luís de Vasconcelos (1779-1790), Valentim criou impressionantes obras sacras em diversas igrejas, e projetou e executou importantes espaços sociais urbanos, como o Passeio Público e o Chafariz da Pirâmide. Sua arte é simbolicamente representativa das mudanças sociais e políticas pelas quais o Rio de Janeiro passou nas últimas décadas dos setecentos. Mestre Valentim nasceu em Minas Gerais, migrou posteriormente para Portugal, onde construiu toda sua base de formação nas Artes, e se estabeleceu vinte cinco anos depois no Rio de Janeiro, transformada em capital do Vice-Reino do Brasil em 1763. A cidade, principal porto da colônia portuguesa por sua localização estratégica de escoadouro de ouro e diamantes da região das Gerais, tornou-se receptáculo do estilo barroco vindo de Portugal, que recebeu forte influência das idéias do Iluminismo de civilidade e progresso. Na arte de Valentim, pode-se vislumbrar as características do Barroco nas suas obras de talha dourada[1] em estilo rococó[2], por exemplo, nas igrejas da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, da Ordem Terceira de São Francisco de Paula, e da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte e, sobretudo, perceber-se a formação da política de civilidade iluminista na construção do Passeio Público e do Chafariz da Pirâmide. A imponente arte sacra de Mestre Valentim nas igrejas de Ordens Terceiras e irmandades representa o poder que estas instituições adquiriram com a reforma do Ministro das Finanças português, Marquês de Pombal, que expulsou os padres jesuítas da Companhia de Jesus, do reino e das colônias em 1759, e com a mudança da capital do Vice-Reino para o Rio de Janeiro. A decoração encomendada por estas igrejas ao Mestre segue a tradição lusitana da escultura em madeira e da monumentalidade da talha barroca dourada em ouro, definidas em um amálgama de formas barrocas, rococós e neoclássicas. Esta decoração marcou o prestígio que aquelas instituições ganharam junto ao poder civil e militar, que nelas buscavam distinção e reconhecimento social. Porém, é mais propriamente na arte civil de Valentim que se pode reconhecer o desenvolvimento que a cidade sofreu na segunda metade do século XVIII. O Passeio Público (hoje localizado na Cinelândia), uma de suas obras mais complexas, inaugurada em 1785, possui notável conteúdo simbólico do ideal de civilidade iluminista. Monumental jardim público, símbolo de embelezamento urbano, o Passeio foi destinado a servir como um espaço de entretenimento para a elite social da época. Considerado como um jardim cortesão, nos moldes de importantes jardins europeus, como o de Versailles, o Passeio Público foi ornamentado por agradáveis canteiros e ruas arborizadas, dispostos em formas geométricas, conforme a estética do barroco, e por elementos da Antigüidade Clássica (pirâmides, deuses mitológicos) e da natureza (fontes, chafarizes e objetos da flora e fauna local talhados em metal fundido). Este lugar de lazer e contemplação da natureza da burguesia carioca foi estrategicamente construído na entrada da Baía de Guanabara, cujo esplêndido panorama convidava os visitantes, a partir da Fonte dos Amores — situada no extremo oposto à entrada do jardim — a uma aproximação com o céu, com a luz. O Passeio é uma verdadeira representação do domínio da natureza pela razão do homem, no sentido de que reflete a prática iluminista de progresso pela integração da natureza à urbe. Outra construção urbana significativa é o Chafariz da Pirâmide (localizada na atual Praça XV), datado de 1789. Dentre outros chafarizes do Rio de Janeiro (alguns dos quais de autoria do próprio Valentim), o da Pirâmide foi o principal e o mais imponente, de elementos barrocos e rococós, cujo objetivo era o de atendimento às embarcações que chegavam pela Baía de Guanabara, e o de abastecimento da população. Estas funções sociais, aliadas à sua localização estratégica no Largo do Paço, centro de interesses políticos e comerciais da cidade, confere a este chafariz destacada representação das transformações ocorridas no Rio de Janeiro durante o período, inspiradas no racionalismo iluminista progressista. Através do trabalho artístico dinâmico e majestoso de Mestre Valentim, pode-se apreender, portanto, o significativo desenvolvimento social e político do Rio de Janeiro durante a segunda metade do século XVIII. Seja na arte sacra, seja na arte civil, o Mestre brilhantemente conseguiu aliar padrões estéticos barrocos aos ideais das Luzes de progresso da civilização. Dotada de grande simbolismo, a arte barroca de Valentim é a expressão ainda viva das profundas transformações no imaginário e nas mentalidades de uma época. Referências Bibliográficas: CARVALHO, Anna Maria Fausto Monteiro de. Mestre Valentim. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 1999. 112 p. ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL ARTES VISUAIS. Barroco Brasileiro. Disponível em http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_texto&cd_verbete=63. Acessado em nov. 2008. GOMBRICH, E.M. História da Arte. TLC, 1999. MELLO, Suzy de. O Barroco no Centro-Sul. In: Barroco. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1983. pp. 97-105. SILVA, Kalina & SILVA, Maciel. Barroco. In: Dicionário de Conceitos Históricos. 2ª Edição. SP: Ed. Contexto, 2006. WIKIPÉDIA. Talha Dourada. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Talha_dourada. Acessado em nov. 2008.

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