Bate Folha – Povo Banto.

Bate Folha – Povo Banto.

Bate Folha – Povo Banto. 1024 732 Marcos Passos

A “nação” Angola, de origem Banto, adotou o panteão dos orixás iorubás (embora os chame pelos nomes de seus esquecidos inkisis, divindades bantos, assim como incorporou muitas das práticas iniciáticas da nação queto. Sua linguagem ritual, também intraduzível, originou-se predominantemente das línguas quimbundo e quicongo. Nesta “nação”, tem fundamental importância o culto dos caboclos, que são espíritos de índios, considerados pelos antigos africanos como sendo os verdadeiros ancestrais brasileiros, portanto os que são dignos de culto no novo território a que foram confinados pela escravidão. O candomblé de caboclo é uma modalidade da nação angola, centrado no culto exclusivo dos antepassados indígenas. Foram provavelmente o candomblé angola e o de caboclo que deram origem à umbanda. Há outras nações menores de origem banto, como a congo e a cambinda, hoje quase inteiramente absorvidas pela nação angola.

O Deus supremo e Criador é Nzambi ou Nzambi Mpungu; abaixo dele estão os Jinkisi/Minkisi, divindades do Panteão Bantu. Essas divindades se assemelham a Olorun e Orishas da Mitologia Yoruba, e Olorum e Orixá do Candomblé Ketu.

Os principais Minkisi são:

Aluvaiá, Bombo Njila, Pambu Njila: intermediário entre os seres humanos e o outros Jinkice (cf. Exú (orixá)).
Nkosi: Senhor dos Caminhos, das estradas de terra
Mukumbe, Biolê, Buré: qualidades ou caminhos desse nkise
Ngunzu: engloba as energias dos caçadores de animais, pastores, criadores de gado e daqueles que vivem embrenhados nas profundezas das matas, dominando as partes onde o sol não penetra.
Kabila: o caçador pastor. O que cuida dos rebanhos da floresta.
Mutalambô, Lembaranguange: caçador, vive em florestas e montanhas; deus de comida abundante.
Gongobira: caçador jovem e pescador.
Mutakalambô: tem o domínio das partes mais profundas e densas das florestas, onde o Sol não alcança o solo por não penetrar pela copa das árvores.
Katende: Senhor das Jinsaba (folhas). Conhece os segredos das ervas medicinais.
Nzazi, Loango: São o próprio raio.
Kavungo, Kafungê, Kingongo: deus de saúde e morte.
Nsumbu – Senhor da terra, também chamado de Ntoto pelo povo de Kongo.
Hongolo ou Angorô: auxilia a comunicação entre os seres humanos e as divindades.
Kitembo: Rei de Angola. Senhor do tempo e estações.
Kaiangu: têm o domínio sobre o fogo.
Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula: qualidades ou caminhos de Kaiangu
Kisimbi, Samba_Nkice: a grande mãe; deusa de lagos e rios.
Ndanda Lunda: Senhora da fertilidade, e da Lua, muito confundida com Hongolo e Kisimbi.
Kaitumbá, Mikaiá, Kokueto: deusa do oceano.
Nzumbarandá: a mais velha das Nkisi
Nwunji: Senhora da justiça. Representa a felicidade de juventude e toma conta dos filhos recolhidos.
Lembá Dilê, Lembarenganga, Jakatamba, Kassuté Lembá, Gangaiobanda: conectado à criação do mundo.
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Ritual

Na Angola, os sacramentos são:

1 – Massangá: Ritual de batismo de água doce (menha), na cabeça (mutue), do iniciado (ndumbi), usando-se ainda o kezu (Obi).
2 – Nkudiá Mutuè: (Bori)- ritual de colocação de forças (Kalla ou Ngunzu(Angola)= Asé(Axé) = Muki(Congo)), através do sangue (menga) de pequenos animais.
3 – Nguecè Benguè Kamutué: ritual de raspagem, vulgarmente chamado de feitura de santo.
4 – Nguecè Kamuxi Muvu: Ritual de obrigação de 1 ano.
5 – Nguecè Katàtu Muvu: Ritual de obrigação de 3 anos (Nguece = obrigação), nessa obrigação, faz-se o ritual de mudança de grau de santo.
6 – Nguecè Katuno Muvu: Ritual de obrigação de 5 anos, preparação quase que identica a de um ano, só que acompanhada de muitas frutas.
7 – Nguecè Kassambá Muvu:ritual de obrigação de 7 anos, quando o iniciado receberá seu cargo, passado na vista do público, sendo elevado ao grau de Tata Nkisi (Zelador) ou Mametu Nkisi (Zeladora).
As obrigações, são de praxe para os rodantes, porque Kota (ekedi) e Kambondo (ogã), ja recebem seus cargos na feitura, portanto já nascem com suas ferramentas de trabalho, dão suas obrigações para aprimorar seus conhecimentos.
Em Angola, quem passa cargo são os enredos de Dandalunda. Isto é, não é preciso ser filho de Dandalunda, mas é ela quem autoriza aquela pessoa a receber o cargo.
Após 7 anos de obrigações, se renovarão a cada ano com rito de obi ou borí, conforme o caso, repetindo-se as obrigações maiores de 7 em 7 anos para renovar e conservar o indivíduo forte, transformando-o em Kukala Ni Nguzu- Um ser forte.
Kunha Kele: Sacramento realizado 3 meses e 21 dias após a feitura ( tirada de kele), quando o santo soltará a Kuzuela = Ilá.
Ordem de barco (sequência das pessoas recolhidas juntas para iniciação) na Angola

1º – Kamoxi, 2º – kaiari, 3º – katatu, 4º – Kakuanam, 5º – kakatuno, 6º – Kassagulu, 7º – Kassambà.

Na hierarquia de Angola o cargo de maior importância e responsábilidade são: é mais frequente se dizer Tata Nkisi (homem) ou Mametu Nkisi (mulher)..…….

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BATE FOLHA NOS CAMINHOS

DOS ORIXÁS!!

(o inicio e orgulho de uma nação)


No ano de 1881, em Salvador – BA, nasce Manuel Bernardino da Paixão.
Em 1919, Bernardino iniciou-se na
Nação do Kongo, pelas mãos do

Muxikongo (designação das pessoas


naturais do Kongo),
Manuel Nkosi, sacerdote iniciado na

África.



E sua dijina era Ampumandezu. Quando Manuel Nkosi kufou (morreu), Bernardino procurou sua amiga Maria Genoveva do Bonfim – Mam’etu Tuhenda Nzambi, do Tumba Nsi (outra importante raiz de Candomblé de Angola) que era mais conhecida como Maria Neném. Foi com ela, que Bernardino ti­rou a Maku-a-Mvumbi (Mão do Morto), pois não havia outras casas de culto Kongo em Salvador. Como o culto de Angola possui muitas diretrizes do Kongo, acredita-se que ele tenha escolhido o Tumba Nsi por este motivo.
Maria Neném era filha-de-santo de Roberto Barros Reis, escravo angolano, de propriedade da família Barros Reis, que lhe emprestou o nome pelo qual era conhecido.
A cerimônia de Maku-a-Mvumbi, a qual Bernardino se submeteu, coincidiu com a iniciação de Manoel Ciriaco de Jesus, nascido em 08 de agosto de 1892, também na Bahia. A partir daí, Bernardino e Ciriaco se tornaram amigos. Ciriaco, anos mais tarde, após o falecimento de seu irmão-de-santo mais velho, Manuel Kambambi, que na época tinha casa aberta na Bahia, o sucedeu no terreiro que hoje é conhecido por Tumba Juncara (outra importante raiz de Candomblé de Angola).
Com o passar do tempo, Bernardino já muito famoso, fundou o Inzo Manzo Bandukenké (Bate-Folha), situado na Mata Escura, em Salvador, Bahia.
O terreno onde está estabelecido o Candomblé, é cercado de árvores centenárias e considerado o maior Terreiro do Brasil que, na época, foi presenteado à Bamburusema (lansã), seu segundo mukixi, já que o primeiro era gamgainbanda (Oxalá velho).
Logo, pelas origens de Manuel Nkosi, o Bate-Folha é Kongo e, mantém o Angola, por parte de Maria Neném.
No dia 04 de dezembro de 1929, Bernardino tirou seu primeiro barco, cujo Rianga (1º Filho da casa), foi João Correia de Mello, que também era de Lemba (Oxalá novo).
Tat’etu Ampumandezu iniciou cinco barcos: quatro na Mata-Escura e um na casa da filha. Nesses cinco barcos ele só fez dois filhos-de-santo homens: João Correia de Mello (João Lessenge), que foi o primeiro e Bandanguame, do segundo barco.
O Bate-Folha do Rio de Janeiro
Por volta de 1938, João Correia de Mello, conhecido como João Lessenge (Lessengue), mudou-se para o Rio de Janeiro.
Ao chegar, Lessenge foi morar na Rua Navarro, no Catumbi. Trouxe em sua companhia, alguns irmãos de santo, Mãe Ngukui, chegou mais tarde em 1952
João Lessenge conheceu outras pessoas de santo, em sua maioria oriundas da Bahia, passando então a participar dos rituais das diversas casas de Candomblé, já existentes na cidade. Teve como grande amigo e conselheiro, pai pequeno Virgílio Angorense, daí houve uma grande afinidade e algumas liturgias assimiladas do Jeje.
No início dos anos 40, Lessenge comprou um terreno com aproximadamente 5.000 metros quadrados, no bairro Anchieta, fundando ali, o Inzo Kupapa Unsaba, mais conhecido como Bate-Folha do Rio de Janeiro.
Quando Bernardino faleceu, Tat’etu Lessenge foi escolhido para assumir a casa, o Manzo Bandukenké, mas ele já havia fundado sua casa no Rio de Janeiro e não pode assumir a responsabilidade, que foi passada a Bandanguamê, que era de Kavungo.
O terreiro de Salvador é Bate-Folha, porque o nome da fazenda que Tat’etu Ampumandezu comprou para fixar a roça, tinha esse nome. Já no Rio de Janeiro, Tat’etu Lessenge quis colocar um nome que desse referência a casa onde foi iniciado e ficou Bate-Folha também.
João Lessenge tirou doze barcos, sendo o primeiro em 26 de novembro de 1944, e o último em 08 de novembro de 1969.
No dia 29 de setembro de 1970, às 23:40h, morre João Lessenge, o senhor do Bonfim de Anchieta.
Após o falecimento de Tat’etu Lessenge, em 1970, o Bate-Folha do Rio de Janeiro atravessou um prolongado luto.
Somente em 1972, em ocasião de Luvaiu (Cerimônia de Sucessão), que o Bate-Folha do Rio de Janeiro reabriu, sendo ali investida, no cargo como Mam’etu riá Nkisi (Sacerdote Chefe), sua sobrinha e filha-de-santo, Mabeji – Floripes Correia da Silva Gomes, tornando-se, herdeira de seu tio Lessenge.
Mametu Mabeji, baiana do bairro da Liberdade, chegou ao Rio de Janeiro para residir com o seu tio João Lessenge em 19 de outubro de 1946 e iniciou-se no Candomblé em 20 de abril de 1947. Está à frente do Inzo Kupapa Unsaba, há 34 anos, promovendo e preservando os ritos bantus e kongo, de um modo magistral.
Kigua ao povo do Bate-Folha, à Mam’etu Mabeji. Kigua, também, àqueles que com carinho e seriedade, contribuíram para a preservação dos ritos que começaram a ser disseminados ou com Tat’etu Ampumandezu e Tat’etu Lessenge.
A Tat’etu Paulo Mutaua, Mam’etu Sissime, Mametu Sambadiamongo, Mam’etu Kilu e tantos outros, que já não estão mais conosco.
E kigua aos que ainda mantém acesa a chama do Angola/Kongo, Mam’etu Maza Kessy, Mam’etu Ofalamim. E tantos outros que seria quase impossível citá-los, dado o tamanho que esta família se tornou.
Falar sobre essa raiz é falar sobre a história do Candomblé no Brasil.
Esta Ndanji (raiz) inestimável, não sentiu a necessidade de “aportuguesar” as cantigas. Sempre procurou se aprofundar no culto, e talvez por isso aqui houve essa ketualização que ocorre em algumas casas.
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