(32) No Brasil, o culto a Oxumaré foi um dos mais reprimidos durante os tempos da escravidão, pois não há animal mais amaldiçoado pelo cristianismo do que a cobra, causa da expulsão de Adão e Eva do Paraíso.
(33) Há sacerdotes que relacionam o movimento circular da serpente Dan, quando presa à cauda, com o movimento de rotação da terra e seu translado em torno do Sol: a dinâmica da vida e do Universo, regido por Oxumaré.
Oxumaré é um Orixá masculino, embora algumas pessoas acreditem que seja macho e fêmea, por não considerarem que seu par feminino é sua irmã gêmea, Ewá (34), cujos domínios são parecidos com os dele.
(34) Segundo a mitologia Ewá foi expulsa do Daomé, acusada de ser uma cobra muito má, mas encontrou abrigo entre os Iorubás, que a transformaram numa cobra boa e bela, a metade feminina de Oxumaré e é por isso que no Candomblé, em qualquer ocasião, eles dançam juntos. Ewá vive nas matas, sob a proteção de Oxossi, onde tornou-se uma guerreira valente e caçadora habilidosa. É considerada “Rainha das Mutações” e “Senhora do Belo”, que preside o canto e os ruídos alegres, os perfumes, a umidade, a mutação das formas e cores na natureza e as transformações que ocorrem em seu seio. Ewá rege a transformação do mal em bem e o balé da natureza.
Essa idéia de um Oxumaré andrógino é reforçada pelo fato de Oxumaré ser o “Senhor dos Opostos”, pois masculino e feminino, bem e mal, dia e noite, positivo e negativo, tese e antítese e tudo o que é cíclico está sob sua regência, tal como as estações do ano, o ciclo das águas (35) (36), a multiplicidade das existências, como na reencarnação e seus variados destinos. Seu culto visa solicitar a Oxumaré, a serpente arco-íris, que o mundo, que a vida não pare.
(35) Diz a lenda que Oxumaré é um servidor de Xangô e que seu trabalho consiste em recolher a água da chuva e levá-la de volta às nuvens.
(36) O fato de Oxumaré estar ligado às chuvas que trazem vigor às plantações, fez dele um mito ligado à riqueza, à fortuna.
As formas alongadas na natureza, tal como o cordão umbilical, é atribuída a sua influência, assim é que algumas pessoas enterram-no, geralmente com a placenta, sob uma palmeira que se torna propriedade do recém-nascido, cuja saúde dependerá da boa conservação da árvore. Na realidade, as formas alongadas simbolizam a continuidade e permanência de Oxumaré.
No Candomblé, seus filhos usam brajás, colares de búzios entrelaçados de modo a formar um arranjo que lembre as escamas de uma serpente e o ibiri, uma espécie de vassoura feita com nervuras das folhas de palmeiras, tal como os filhos de Nanã e Omulu. Quando dançam levam nas mãos pequenas serpentes de metal e apontam o dedo indicador para o céu e para a terra, num movimento alternado ou dançam com movimentos ondulantes, atirando-se por vezes ao chão, imitando o bote de uma serpente.
Na Umbanda, Oxumaré, irradia as sete cores, irradiações divinas que permeiam as Sete Linhas de Umbanda como impulso renovador que atua em grande sintonia com a vibração de Oxalá e de Oxum, formando toda uma hierarquia de Caboclos e Caboclas Arco-Íris e de Caboclos e Exus Sete Cobras.
Dizem que é a força de Oxumaré na irradiação de Oxalá que faz com que o ser mude suas concepções religiosas e na irradiação de Oxum é o que faz com que a paixão se transforme em amor. Por outro lado, é também através da irradiação de Oxumaré, em seu aspecto mais denso, chamado “Sete Cobras” ou “Sete Caminhos Tortuosos”, a via energética por onde transitam os seres que saíram do caminho do bem, até o arrependimento, vetor para a evolução.
Apesar de não reger, na Umbanda, a cabeça de iniciados, é grande a influência de Oxumaré na Umbanda, que por ser o Orixá das cores e dos aromas está presente em quase todos os rituais.