Ori – Sua Cabeça. Cuide bem dela!!!

Ori – Sua Cabeça. Cuide bem dela!!!

Ori – Sua Cabeça. Cuide bem dela!!! 150 150 Marcos Passos

Concepção de Orí
Cabeça no sentido literal da palavra. Mas, Orí no conceito yorùbá tem outras conotações além da simples cabeça física. Pois, para os Yorùbá existe o ORÍ-INÚ – a cabeça interior. Este Orí-inú é aquele que foi moldado por Àjàlá (o Oleiro fazedor de cabeças, descrito na lenda do Orí e a escolha do destino do homem).
Na lenda do Orí e a escolha do destino, conta que Àjàlá fabrica muitas cabeças no ÒRUN e que cada ser humano que vive no ÒRUN – Céu e está para viajar para o Ayé – Terra, vai à casa de Àjàlá para escolher o seu Orí. E a vida do homem na terra vai depender crucialmente da escolha do Orí que ele fez. Pois, acredita–se que essa escolha já predestina o homem ao sucesso ou ao fracasso em sua vida no Ayé.
Diz que Àjàlá é dado a tomar umas bebidas e ao ficar meio alto, ao fazer as cabeças Ele erra na composição da argamassa deixando-a fora do padrão necessário para ser moldada, muito arenosa ou excesso de liga.
Também cozendo-as, às vezes muito, o que as torna muito rígidas e ressecadas ficando muito duras, queimadas e quebradiças. Ou cozendo-as pouco, deixando-as quebradiças e esfarelentas. Às vezes, as moldando tortas que quando cozidas ficam rotas.
Ao escolher sua cabeça e seguir em direção ao àiyé, o ser humano atravessa vários ambientes como de calor excessivo de desertos: muito frio como das zonas gélidas da terra: zonas onde tem de atravessar tempestades com ventos e chuvas fortes. E se as cabeças não tiverem sido bem confeccionadas elas irão se danificar e ficarão em péssimo estado ao chegarem ao àiyé.
Dependendo do estado em que cheguem, se a cabeça estiver boa àquela pessoa trabalhará, e tudo o que fizer será para si mesmo, podendo prosperar na vida, alcançando o sucesso e a fortuna. Se a cabeça estiver danificada, aquela pessoa trabalhará e tudo o que conseguir será para gastar com os reparos mo seu Orí.
Quando ele não foi muito danificado, os primeiro anos de vida dessa pessoa serão um pouco sacrificados, ela poderá passar por privações e dificuldades em virtude de não conseguir prosperar na vida, pois, tudo o que arrecadar irá para o conserto do seu Orí. Depois que ele terminar os reparos necessários, o que ele fizer será para si próprio, é então quando ele começa a prosperar em sua vida no àiyé.
Outras pessoas têm Orí tão danificados, que por mais que trabalhem na vida, jamais conseguirão consertar os danos do seu Orí. E tudo o que fizerem na vida será para gastar com seu Orí ruim. São aquelas pessoas que passam a vida toda vegetando, nunca conseguem fazer nem concluir as coisas, vivendo sempre na penúria e no aperto nunca possuindo nada de seu e não conseguindo serem felizes por mais que se esforcem, pois, tem um Orí ruim.
Mas, acredita-se que esses consertos podem ser feitos através de oferendas – Eborí – ebo Orí, que ajudarão a restaurar aquele Orí mais depressa, o que pode mudar um pouco essa predestinação. Não é porque a pessoa tem um bom Orí que ela poderá ficar sentada esperando tudo de bom na vida.

Ela está predestinada ao sucesso em sua vida, mas, desde que trabalhe para isso. Seus caminhos estarão sempre abertos para alcançar seus objetivos, esforçando-se para isso. 
ÀJÀLÁ ORÍ, ORÍ L’EWÀ, L’EWÀ, L’EWÀ.
ÀJÀLÁ ORÍ, ORÍ L’EWÀ, L’EWÀ, L’EWÀ.
OPÉ ÈNYIN EDÙMARÈ, WÁ ORÍ, E KÚ Ó.
OPÉ ÈNYIN EDÙMARÈ, WÁ ORÍ, E KÚ Ó.
E KÚ Ó ÒRUN, E KÚ Ó ÒSÙPÁ, E KÚ ÒJÒ, ÒJÒ BÒ ILÈ.
E KÚ Ó ÒRUN, E KÚ Ó ÒSÙPÁ, E KÚ ÒJÒ, ÒJÒ BÒ ILÈ.
IRÉ ORÍ Ó JÍ, Ó JÍ IRE ORÍ,
IRÉ ORÍ Ó JÍ, Ó JÍ IRE ORÍ.
Àjàlá que molda cabeças, deixe este Orì lindo, lindo, lindo.
Agradeço-te Deus, venha para esta Cabeça, eu te saúdo.
Eu saúdo o Sol, eu saúdo a Lua, eu saúdo a Chuva, Chuva que cai sobre a Terra.
Vc será uma Cabeça feliz, acorde feliz Orí.

ORI O ORI O
ORI MI O!
SE RERE FUN MI!
MEU ORI!
SE ALEGRE COMIGO!
Para termos idéia quanto a importância e precedência do ORI em relação aos demais ORISA, um Itan do ODU OTURA MEJI, ao contar a história de um ORI que se perdeu no caminho que o conduzia do ORUN para o AIYE, relata: “… OGUN chamou ORI e perguntou-lhe, “Você não sabe que você é o mais velho entre os ORISA? Que você é o líder dos ORISA?’…”. Sem receio podemos dizer, “ORI mi a ba bo ki a to bo ORISA”, ou seja, “Meu ORI, que tem que ser cultuado antes que o ORISA” e temos um oriki dedicado à ORI que nos fala que ” KO SI ORISA TI DA NIGBE LEYIN ORI ENI”, signi
ficando, “… Não existe um ORISA que apóie mais o homem do que o seu próprio ORI…”.

Quando encontramos uma pessoa que, apesar de enfrentar na vida uma série de dificuldades relacionadas a ações negativas ou maldade de outras pessoas, continua encontrando recursos internos, força interior extraordinária, que lhe permitam a sobrevivência e, inclusive, muitas vezes, mantém resultados adequados de realização na vida, podemos dizer, “ENIYAN KO FE KI ERU FI ASO, ORI ENI NI SO NI”, ou seja, “as pessoas não querem que você sobreviva, mas o seu ORI trabalha para você”, trazendo, essa expressão, um indicador muito importante de que um ORI resistente e forte é capaz de cuidar do homem e garantir-lhe a sobrevivência social e as relações com a vida, apesar das dificuldades que ele enfrente.
Esta é a razão pela qual o EBORÍ, forma de louvação e fortalecimento do ORI utilizada em nossa religião, é utilizado muitas vezes, precedendo ou, até, substituindo um EBO. Isso se faz para que a pessoa encontre recursos internos adequados, esta força interior de que falamos, seja à adequação ou ajustamento de suas condições frente às situações enfrentadas, seja quanto ao fortalecimento de suas reservas de energia e consequente integração com suas fontes de vitalidade.
É importante dizer que é o ORI que nos individualiza e, por conseqüência, nos diferencia dos demais habitantes do mundo. Essa diferenciação é de natureza interna e nada no plano das aparências físicas nos permite qualquer referencial de identificação dessas diferenças. . Sinalizando essa condição, talvez uma das maiores lições que possamos receber com respeito a ORI possa ser extraída do Itan ODU OSA MEJI, que reproduzimos a seguir e que é a resposta que foi dada por IFÁ para Mobowu, esposa de OGUN, quando ela foi lhe consultar:
“ORI BURUKU KI I WU TUULU.
A KI I DA ESE ASIWEREE MO LOJU-ONA.
A KI I M’ ORI OLOYE LAWUJO.
A DIA FUN MOBOWU TI I SE OBINRIN OGUN.
ORI TI O JOBA LOLA, ENIKAN O MO KI TOKO-TAYA O MO PE’RAA WON NI WERE MO.
ORI TI O JOBA LOLA, ENIKAN O MO.”
TRADUÇÃO
“Uma pessoa de mau ORI não nasce com a cabeça diferente das outras.
Ninguém consegue distinguir os passos do louco na rua.
Uma pessoa que é líder não é diferente E também é difícil de ser reconhecida.
É o que foi dito à Mobowu, esposa de OGUN, que foi consultar IFÁ.
Tanto esposo como esposa não deviam se maltratar tanto, Nem fisicamente, nem espiritualmente.
O motivo é que o ORI vai ser coroado E ninguém sabe como será o futuro da pessoa.”
Para os yorubá o ser humano é descrito como constituído dos seguintes elementos:
ARA, OJIJI, OKAN, EMI e ORI.
ARA é corpo físico, a casa ou templo dos demais componentes.
OJIJI é o “fantasma” humano, é a representação visível da essência espiritual.
OKAN é o coração físico, sede da inteligência, do pensamento e da ação.
EMI, está associado a respiração, é o sopro divino.
Quando um homem morre, diz-se que seu EMI partiu.
ORI é o ORISA pessoal, em toda a sua força e grandeza. ORI é o primeiro ORISA a ser louvado, representação particular da existência individualizada (a essência real do ser). É aquele que guia, acompanha e ajuda a pessoa desde antes do nascimento, durante toda vida e após a morte, referenciando sua caminhada e a assistindo no cumprimento de seu destino.
ORI em yorubá tem muitos significados – o sentido literal é cabeça física, símbolo da cabeça interior (ORI INU). Espiritualmente, a cabeça como o ponto mais alto (ou superior) do corpo humano representa o ORI.

Enquanto ORISA pessoal de cada ser humano, com certeza ele está mais interessado na realização e na felicidade de cada homem do que qualquer outro ORISA. Da mesma forma, mais do que qualquer um, ele conhece as necessidades de cada homem em sua caminhada pela vida e, nos acertos e desacertos de cada um, tem os recursos adequados e todos os indicadores que permitem a reorganização dos sistemas pessoais referentes a cada ser humano. Reforçando esta questão temos um oriki que nos diz

“ORI LO NDA ENI
ESI ONDAYE ORISA LO NPA ENI DA
O NPA ORISA DA
ORISA LO PA NIDA
BI ISU WON SUN
AYÉ MA PA TEMI DA
KI ORI MI MA SE ORI
KI ORI MI MA GBA ABODI”
TRADUÇÃO
“ORI é o criador de todas as coisas
ORI é que faz tudo acontecer, antes da vida começar
É ORISA que pode mudar o homem
Ninguém consegue mudar ORISA
ORISA que muda a vida do homem como inhame assado
AYÉ*, não mude o meu destino
Para que o meu ORI não deixe que as pessoas me desrespeitem
Que o meu ORI não me deixe ser desrespeitado por ninguém
Meu ORI, não aceite o mal.”
(* AYÉ – conjunto das forças do bem e do mal)

Como foi dito, não existe um ORISA que apóie mais o homem do que o seu próprio ORI: um trecho do adura (reza) feito durante o assentamento de um IGBA-ORI diz:
KORIKORI
Que com o àse do próprio ORI, O ORI vai sobreviver
KOROKORO
Da mesma forma que o ORI de Afuwape sobreviveu, O seu sobreviverá. Ele será favorável a você. Tudo de que você precisa, Tudo o que você quer para a sua vida, É ao seu ORI que você deverá pedir. É o ORI do homem que ouve o seu sofrimento…”

O que é então ORI, de que a natureza é constituído e qual o seu papel na vida do homem? Em primeiro lugar, acredita-se que o corpo humano é constituído de duas partes: a cabeça e o suporte – ORI e APERE. Acredita-se que este corpo adquire existência na medida em que recebe de OLODUMARE o sopro vivificador – o EMI.
Este sopro foi o agente do processo da criação em seu primeiro momento e tem sido o responsável pela geração e continuidade de toda a vida no universo.
Este modelo descrito e de entendimento abrangente para todas as formas de vida é repetido no ser humano.
A cabeça e o seu suporte, ORI-APERE são formados a partir dos elementos matrizes, enquanto o ORI-INU, interior, representa, na sua constituição, uma combinação de elementos, porções de matéria-massa que é particularizada durante o processo de modelagem de cada ORI. Ele é único e, por conta disso, particulariza e dá individualização à existência.

Essa combinação “química” definirá parte das relações do homem com o mundo sobrenatural e a religião, na medida em que determina o seu ELEDA, ORISA – símbolo do elemento cósmico de formação, a que chamamos, adiante, de IPORI, daquele ORI-INU em particular.

No Brasil vimos, com certa frequência, o ELEDA ser chamado de ORISA-ORI, simplificação da relação aqui exposta. ELEDA segundo Juana Elbein dos Santos em Os Nagô e a Morte, “se refere à entidade sobrenatural, à matéria-massa que desprendeu uma porção da mesma para criar um ORI, consequentemente Criador de cabeças individuais…”

Segundo a autora também, “A espécie de material com o qual são modelados os ORI individuais indicará que tipo de trabalho é mais conveniente, proporcionando satisfação e permitindo a cada um alcançar prosperidade. Indica também as interdições – EWO – aquilo que lhe é proibido comer, por causa do elemento com o qual o seu ORI foi modelado”.
Ou seja, os EWO representam a proibição de que o indivíduo “coma” alimentos que contenham a mesma “matéria” da qual foi retirada uma porção para modelagem do seu ORI. A não observância da interdição traduz-se por uma disfunção energética de consequências profundamente negativas para o equilíbrio do indivíduo, seja do ponto de vista orgânico, seja do ponto de vista do mundo emocional, seja quanto as suas condições de realização do “programa” particular de existência.
Falamos até aqui sobre a natureza e a constituição do ORI. Agora, qual o seu papel na vida do homem? O conceito de ORI está intimamente ligado ao conceito de destino pessoal e à instrumentalização do homem para a realização deste destino.
Um Itan do ODU OGUNDA MEJI, nos dá a exata dimensão da matéria quando nos relata sobre a correspondência entre o ORI e o homem e a relação de causa e efeito existente nesta correspondência:
“… ORI, eu te saúdo!”.
Aquele que é sábio,
Foi feito sábio pelo próprio ORI.
Aquele que é tolo,
Foi feito mais tolo que um pedaço de inhame,
Pelo próprio ORI…”
ORI O ORI O
ORI MI O!
SE RERE FUN MI!
MEU ORI!
SE ALEGRE COMIGO!
Para termos idéia quanto a importância e precedência do ORI em relação aos demais ORISA, um Itan do ODU OTURA MEJI, ao contar a história de um ORI que se perdeu no caminho que o conduzia do ORUN para o AIYE, relata: “… OGUN chamou ORI e perguntou-lhe, “Você não sabe que você é o mais velho entre os ORISA? Que você é o líder dos ORISA?’…”. Sem receio podemos dizer, “ORI mi a ba bo ki a to bo ORISA”, ou seja, “Meu ORI, que tem que ser cultuado antes que o ORISA” e temos um oriki dedicado à ORI que nos fala que ” KO SI ORISA TI DA NIGBE LEYIN ORI ENI”, significando, “… Não existe um ORISA que apóie mais o homem do que o seu próprio ORI…”.
Quando encontramos uma pessoa que, apesar de enfrentar na vida uma série de dificuldades relacionadas a ações negativas ou maldade de outras pessoas, continua encontrando recursos internos, força interior extraordinária, que lhe permitam a sobrevivência e, inclusive, muitas vezes, mantém resultados adequados de realização na vida, podemos dizer, “ENIYAN KO FE KI ERU FI ASO, ORI ENI NI SO NI”, ou seja, “as pessoas não querem que você sobreviva, mas o seu ORI trabalha para você”, trazendo, essa expressão, um indicador muito importante de que um ORI resistente e forte é capaz de cuid
ar do homem e garantir-lhe a sobrevivência social e as relações com a vida, apesar das dificuldades que ele enfrente.
Esta é a razão pela qual o EBORÍ, forma de louvação e fortalecimento do ORI utilizada em nossa religião, é utilizado muitas vezes, precedendo ou, até, substituindo um EBO. Isso se faz para que a pessoa encontre recursos internos adequados, esta força interior de que falamos, seja à adequação ou ajustamento de suas condições frente às situações enfrentadas, seja quanto ao fortalecimento de suas reservas de energia e consequente integração com suas fontes de vitalidade.

É importante dizer que é o ORI que nos individualiza e, por conseqüência, nos diferencia dos demais habitantes do mundo. Essa diferenciação é de natureza interna e nada no plano das aparências físicas nos permite qualquer referencial de identificação dessas diferenças. . Sinalizando essa condição, talvez uma das maiores lições que possamos receber com respeito a ORI possa ser extraída do Itan ODU OSA MEJI, que reproduzimos a seguir e que é a resposta que foi dada por IFÁ para Mobowu, esposa de OGUN, quando ela foi lhe consultar:

“ORI BURUKU KI I WU TUULU.
A KI I DA ESE ASIWEREE MO LOJU-ONA.
A KI I M’ ORI OLOYE LAWUJO.
A DIA FUN MOBOWU TI I SE OBINRIN OGUN.
ORI TI O JOBA LOLA, ENIKAN O MO KI TOKO-TAYA O MO PE’RAA WON NI WERE MO.
ORI TI O JOBA LOLA, ENIKAN O MO.”
TRADUÇÃO
“Uma pessoa de mau ORI não nasce com a cabeça diferente das outras.
Ninguém consegue distinguir os passos do louco na rua.
Uma pessoa que é líder não é diferente E também é difícil de ser reconhecida.
É o que foi dito à Mobowu, esposa de OGUN, que foi consultar IFÁ.
Tanto esposo como esposa não deviam se maltratar tanto, Nem fisicamente, nem espiritualmente.
O motivo é que o ORI vai ser coroado E ninguém sabe como será o futuro da pessoa.”
Para os yorubá o ser humano é descrito como constituído dos seguintes elementos:
ARA, OJIJI, OKAN, EMI e ORI.
ARA é corpo físico, a casa ou templo dos demais componentes.
OJIJI é o “fantasma” humano, é a representação visível da essência espiritual.
OKAN é o coração físico, sede da inteligência, do pensamento e da ação.
EMI, está associado a respiração, é o sopro divino. Quando um homem morre, diz-se que seu EMI partiu.
ORI é o ORISA pessoal, em toda a sua força e grandeza. ORI é o primeiro ORISA a ser louvado, representação particular da existência individualizada (a essência real do ser). É aquele que guia, acompanha e ajuda a pessoa desde antes do nascimento, durante toda vida e após a morte, referenciando sua caminhada e a assistindo no cumprimento de seu destino.
ORI em yorubá tem muitos significados – o sentido literal é cabeça física, símbolo da cabeça interior (ORI INU). Espiritualmente, a cabeça como o ponto mais alto (ou superior) do corpo humano representa o ORI.
Enquanto ORISA pessoal de cada ser humano, com certeza ele está mais interessado na realização e na felicidade de cada homem do que qualquer outro ORISA. Da mesma forma, mais do que qualquer um, ele conhece as necessidades de cada homem em sua caminhada pela vida e, nos acertos e desacertos de cada um, tem os recursos adequados e todos os indicadores que permitem a reorganização dos sistemas pessoais referentes a cada ser humano. Reforçando esta questão temos um oriki que nos diz

“ORI LO NDA ENI
ESI ONDAYE ORISA LO NPA ENI DA
O NPA ORISA DA
ORISA LO PA NIDA
BI ISU WON SUN
AYÉ MA PA TEMI DA
KI ORI MI MA SE ORI
KI ORI MI MA GBA ABODI”
TRADUÇÃO
“ORI é o criador de todas as coisas
ORI é que faz tudo acontecer, antes da vida começar
É ORISA que pode mudar o homem
Ninguém consegue mudar ORISA
ORISA que muda a vida do homem como inhame assado
AYÉ*, não mude o meu destino
Para que o meu ORI não deixe que as pessoas me desrespeitem
Que o meu ORI não me deixe ser desrespeitado por ninguém
Meu ORI, não aceite o mal.”
(* AYÉ – conjunto das forças do bem e do mal)
Como foi dito, não existe um ORISA que apóie mais o homem do que o seu próprio ORI: um trecho do adura (reza) feito durante o assentamento de um IGBA-ORI diz:
KORIKORI
Que com o àse do próprio ORI, O ORI vai sobreviver
KOROKORO

Da mesma forma que o ORI de Afuwape sobreviveu, O seu sobreviverá. Ele será favorável a você. Tudo de que você precisa, Tudo o que você quer para a sua vida, É ao seu ORI que você deverá pedir. É o ORI do homem que ouve o seu sofrimento…”
O que é então ORI, de que a natureza é constituído e qual o seu papel na vida do homem? Em primeiro lugar, acredita-se que o corpo humano é constituído de duas partes: a cabeça e o suporte – ORI e APERE. Acredita-se que este corpo adquire existência na medida em que recebe de OLODUMARE o sopro vivificador – o E
MI.
Este sopro foi o agente do processo da criação em seu primeiro momento e tem sido o responsável pela geração e continuidade de toda a vida no universo.
Este modelo descrito e de entendimento abrangente para todas as formas de vida é repetido no ser humano. A cabeça e o seu suporte, ORI-APERE são formados a partir dos elementos matrizes, enquanto o ORI-INU, interior, representa, na sua constituição, uma combinação de elementos, porções de matéria-massa que é particularizada durante o processo de modelagem de cada ORI. Ele é único e, por conta disso, particulariza e dá individualização à existência.
Essa combinação “química” definirá parte das relações do homem com o mundo sobrenatural e a religião, na medida em que determina o seu ELEDA, ORISA – símbolo do elemento cósmico de formação, a que chamamos, adiante, de IPORI, daquele ORI-INU em particular.
No Brasil vimos, com certa frequência, o ELEDA ser chamado de ORISA-ORI, simplificação da relação aqui exposta. ELEDA segundo Juana Elbein dos Santos em Os Nagô e a Morte, “se refere à entidade sobrenatural, à matéria-massa que desprendeu uma porção da mesma para criar um ORI, consequentemente Criador de cabeças individuais…”
No ODU OGBEYONU (Ogbe Ogunda) vamos encontrar ainda, “… Quando acordo pela manhã coloco minha mão no ORI. ORI é fonte de sorte. ORI é ORI!…”.
É um oriki dedicado à ORI, mostrando o papel que ORI tem na vida de cada pessoa quanto as suas relações interpessoais, suas relações com as outras pessoas, e as suas condições de realização e progresso em todos os empreendimentos da vida, nos diz:
“ORI MI
MO KE PE O O
ORI MI
A PE JE
ORI MI
WA JE MI O
KI NDI OLOWO O
KI NDI OLOLA
KI NDI ENI A PE SIN
LAYE
O, ORI MI
LORI A JIKI
ORI MI LORI A JI YO MO LAYE”
TRADUÇÃO
Meu ORI
Eu grito chamando por você
Meu ORI,
Me responda
Meu ORI,
Venha me atender
Para que eu seja uma pessoa rica e próspera
Para que eu seja uma pessoa a quem todos respeitem
Oh, meu ORI!
A ser louvado pela manhã,
Que todos encontrem alegria comigo”
Toda existência no universo da Criação se processa em dois planos: O mundo visível, o AIYE, universo concreto que habitamos, e o mundo invisível, ORUN, onde habitam os seres sobrenaturais e os “duplos” de tudo o que se encontra manifestado no AIYE. Não são, como é possível pensar, mundos independentes ou rigidamente separados. Na realidade podemos afirmar que o AIYE é, antes de mais nada, uma “projeção” da realidade essencial que tem existência e se processa no ORUN.
Como diz a Profa. Dra. Iyakemi Ribeiro, em seu livro “Alma Africana no Brasil: os iorubás”, “Para o negro-africano o visível constitui manifestação do invisível. Para além das aparências encontra-se a realidade, o sentido, o ser que através das aparências se manifesta. Sob toda manifestação viva reside uma força vital: de Deus a um grão de areia, o universo africano é sem costura. (Erny, 1968:19) Universo de correspondências, analogias e interações, no qual o homem e todos os demais seres constituem uma única rede de forças.”
É necessário entender, assim, que AIYE e ORUN constituem uma unidade e, enquanto expressões de dois níveis de existência, são inseparáveis e complementares. Essa unidade é simbolizada pelo IGBA-ODU, cabaça formada de duas metades unidas onde a parte inferior representa o AIYE e a parte superior representa o ORUN. No interior, os “elementos

indispensáveis à existência individualizada”. Poderia ser representada por uma figura e sua imagem refletida no espelho – há plena identidade entre elas, uma é apenas a imagem invertida da outra.
Podemos dizer nessa figuração que o AIYE é a imagem refletida do ORUN. Essa analogia provavelmente explica a situação conhecida de que os ODU, quando vieram do ORUN para o AIYE, tiveram sua ordem de precedência invertida. Ou seja, muito embora no AIYE considere-se EJIOGBE MEJI como o mais antigo dos ODU, todo Babalawo saúda OFUN MEJI, ou ORANGUN MEJI como é também conhecido, em sua realeza, dizendo: eepa ODU!, Louvando assim sua antiguidade e sua precedência efetiva.
Temos assim que toda existência no AIYE reflete uma realidade anterior existente no ORUN. A existência no AIYE implica em processar-se uma “modelagem” anterior no ORUN, a partir da qual porções de matérias-massas que constituem a base da existência genérica são tomadas em fragmentos particulares e vão constituir a manifestação dessa existência em forma individualizada no AIYE.

Esses elementos matrizes possuem, por consequência, dupla existência: uma parcela presente no ORUN e a outra parcela dando vitalidade ou formação às diferentes partes que formam a “realidade” individualizada de vida. A esses fragmentos particulares retirados da massa genitora chamamos IPORI e é ele, IPORI, que determinará o ORISA que cada indivíduo cultuará no AIYE, condicionando também sua instrumentalização particular na relação com a vida e o repertório possível de escolhas que possa realizar.
CHAT WHATSAPP
INICIAR UMA CONVERSA AGORA
Clique em um atendente abaixo